segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Enquanto a banda do exército demonstrava a Carmen de Bizet, sob a marquise do Ibirapuera, em comemoração ao dia de sei lá o quê; eu fazia gestos de regente olhando pra bunda daquelas duas jovens patinadoras. A loira tinha menos dotes físicos, era desengonçada e não tinha o menor jeito pra sedução. Já a morena era como um espelho para aquela jovem loirinha em processo de amadurecimento. A morena era um fogo para qualquer imagem de Cristo, uma deusazinha que combinava os chifres com a auréola. Mas aquelas duas jovens patinavam para o outro lado da marquise, lá pro final da longa faixa de chão liso, perto do museu e cada vez mais eu ia perdendo o alcance dos detalhes. Segundos depois restavam somente dois pontinhos que iam sumindo, sumindo, até desaparecerem de vez. Eu parecia um bobo, daqueles com dote para o fracasso, tipo o Quasímodo de Notre Dame. As duas nem sequer notaram o meu improviso, os meus movimentos de mestre com os dedos, a tentação que era pra mim aquelas suas bagagens anatômicas, por mais que tivesse que ensinar uma delas a manusear o corpo - apesar que isso era fácil, o necessário era ter a ferramenta. Eu estava acompanhado de dois amigos, um casal. Vieram de fora para ver uma exposição de ficção científica, do tipo de ciência que era para mim que nem o cão era pro gato, um estranho inimigo. Era eles por lá e eu por aqui.

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