segunda-feira, 24 de março de 2008

Seria uma paz transformar aquela burguesinha (ela se chamava Lúcia) em mais uma boneca do sexo na caderneta do Jeová, o cafetão mais pragmático & fudido da região. E o pior é que ela me dava bola usando daquele delicioso jogo de sedução que começava com suas pernas, mas naquele dia eu não sabia nem meu nome quanto mais teria a capacidade de trocar uma idéia com ela. Deixei pra outro dia. Esse seria de praxe. Andei o corredor de ferro que fica na parte de trás do prédio que eu moro até chegar no banheiro; ele ficava fora do quarto que eu pagava quando tinha grana. Depois peguei minhas tralhas & fui dá uma volta, com a imagem daquela mulher me circulando como o fatal aroma de um perfume. Dei bandas pra sul, lá tinha um pube que eu gastava bastante tempo, era o meu verdadeiro lar; quem me dava conselhos eram as garrafas e quem me agredia depois com a razão era a porta batida nas minhas costas pela falta de paciência do Dorival em pedir que eu caisse fora, porque ele queria ir pra casa ver seus filhos e sua mulher(nessa ordem, seus filhos primeiro, sua mulher depois). Eu vivia nessa igreja com devoção, só não deixava ficar clichê demais, por isso hoje me joguei pra sul, mas não pro pube do Dorival, um amigo que tentava me ajudar com um vício.



p.s: fragmento de conto!

quarta-feira, 19 de março de 2008

Tem sempre algum anjo, químico ou não, que se aproxima de mim nos momentos de tristeza profunda. Que decadência! Agente aposta numa profecia mesmo não acreditando, e não é que a pôrra funciona mesmo, às vezes!
Eu tava numa travessa da rua Ângela Bassan quando vi aquele anjo disfarçado em uns trapos de camponesa do século catorze. Olhei pra ela vibrando os olhos de pena. Se não era pena era algum sentimento que se reagia mais forte no corpo. Atrás de todo aquele mantuário desprovido de cor, revestido de uma sujeira milenar; uma pele branca e sadia encoberta de pó e falta de vida tentava aparecer. Eu carregava nos braços um saco de pão e uma sacola com leite e mortadela, pensei em atravessar e dividir o meu café, mas tinha que ajudar de uma forma mais gloriosa, a menos imaginada possível, se não seria o mesmo que acordar todo dia pra nada. A multidão de carros e gente nos roubava o foco por milésimos de tempo, mas logo estávamos ali, fixados um na imagem do outro. Ela com seus movimentos cada vez menos perceptíveis e eu me interrogando de vou-ou-não-vou. Observei tudo que tava ao seu redor: a cabine telefônica cheia das propagandas das putas, quer dizer, das finas duquesas noturnas; algumas portas de loja se fechando, um ponto de táxi a trinta metros dela, e uns dois cães cheirando o chão na porta da loja abandonada em que ela se encontrava. O farol tava no amarelo quando eu tomei a primeira atitude sob aquele meu crônico altruísmo. Fui em sua direção, certo e objetivo em sua direção. Chegando de frente praquele anjo de trajes fora de época, no mesmo momento em que um caminhão carregando remédios buzina um grito atrás de mim, disse, Vamos tomar um café? Ela não se moveu verbalmente, virou as pernas para a direção do bar e eu segui. Minutos depois estávamos sentados, depois de eu gastar algumas palavras com o garçom e o gerente do recinto, que temiam a presença da moça no ambiente, dizendo que ia afastar a clientela. Eu disse numa baforada, Vocês sabem pra quê vocês estão aqui, agora, nesse lugar? Eles se olharam com uma cara de pato de dar trono pra quasimodo. Continuei, Vocês estão aqui pra nos servir! Então, por favor, traga-nos uma dose de conhaque e o cardápio que a dama está com fome. Fiz questão de usar da fineza de um aristocrata metido, mas só pra deixar o cara com as pernas quebradas lamuriei aquele glamour de merda. E ele gosou do rabo entre as pernas. Saiu que nem peixe da mão. Comemos e trocamos umas idéias a noite toda. Parecíamos dois diabos brincando no tempo de suas histórias. Numas risadas estranhas agente se conhecia rapidamente e eu mal notava que eu não passava de um vagabundo viciado em delírios, viciado na caça ao coelho, trocando valores com uma moradora de rua. E de muita cultura! Duvidei em vários momentos que ela poderia ser a reencarnação da própria Simone, a de Bôvárrí. Peguei minhas tralhas e cai pro subúrbio das esquinas, imaginando que aquilo também poderia ser uma alucinação, um atrativo delírio da minha cabeça. Mas não era engano, nem descaso de minha consciência, a realidade era tão intensa quanto a picada de uma agulha no braço. Me senti revigorado e sem cobrar nada por isso. Fui pelo instinto e saciei a imagem de um anjo por algum tempo da noite.
Antes de dormir joguei uns êmeéles pro santo e dei um gole duplo num wiskie velho que eu tinha em casa. Depois apaguei com a cara do bucóvisqui durante o dia, um trapo!
coff!$%%%#@@!!!frrrr!&*%$$#
ptaque¨¨&%pariu!&**¨%qpÔoorra...

foi es$$A!%$###*###$$$%%!!#!!!!



P.S: foi apenas uma noite ruim!

quinta-feira, 13 de março de 2008

" Corra no meu sangue
ó delícia!
me destruindo
e me deliciando.
Não sei o que me faz bem,
mas o que me delicía
não passa despercebido;
Seu nome é delícia,
embora

----------- sejas veneno. "


Edi Carlos cresceu em Abreu e Lima/PE,
tem 22 e se diz 'objetivo e inconstante'. Cúmplice do
paradoxo, o cara um dia deixa de ser vagalume.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Tem dias que agente prefere uns carinhos da poltrona a levar uns boxe da garrafa. Levantei por volta das duas. Tomei uns goles de café e cai pro sofá pra ver filme. Descobri que quando agente vai ficando mais velho agente vai dando mais trela pra preguiça - isso é observado nas expressões do corpo, é uma desgraça! - é a morte vencendo um primeiro round. Pus um do Coppola, Apocalypse Now. Sem pipoca. Só as pernas e o corpo virando pra todos os lados, fazendo uns buracos absurdos na poltrona, como se ali estivesse rolando um puta animalsex, mas era só eu comigo mesmo, bolinando na minha preguiça, vendo a leitura de um apocalipse produzido em 79. É engraçado! Você levanta, o sol te convida pra um passeio no parque e você o que faz, ignora, como se fosse a mulher mais feia do universo. Negar pra esse fogo é foda, mas tem dias que agente prefere a própria sombra a ficar contando historinhas em que o veado come o leão pros outros se divertir, como se tudo fosse um espetáculo a parte. Tem dias que é melhor ficar no desaparecimento, vendo e não vivendo um apocalipse que acontece AGORA.

quinta-feira, 6 de março de 2008











"voltANDO
coloRINDO
os muros!"

Um parêntese de silêncio pra um trabalho bacana do paulistano Jonas Rocha. O cara tá produzindo um trabalho cool nas mediações de sampa, lá na essência de seu tão louvado Jardim Ruyce(Diadema). Jonas faz um trabalho de grafite, desenhos a bic(a caneta, isso!) e é o responsável por esculturas bem encorpadas feitas com papelão, machê e cola. Jonas é um brother engajado num talento sucinto, um artista de criações 'plásticas' - Um grito lá de Djá!
Terça-feira o corredor da kit fazia um puta eco no meu ouvido. Entre um número e outro do relógio eu escutava alguém passar, de vez em quando um rato e uma barata, fazendo ponto e vírgula entre um morador e um visitante. Aquela arquiteturazinha era frequentemente visitada por causa da última porta, onde um cara vendia sonhos e delírios de Sandman. Eu fico deitado nesse colchão úmido olhando os buracos e o vazamento do chuveiro não por causa das minhas dívidas esterlinas, mas porque meus pesadelos aparecem pra mim como um fantasma manco e caolho que se justifica como advogado do diabo. Ontem a noite foi menor. Tá foda ser morte!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Eu achei
que tinha pousado um corvo no meu ombro,
mas foi apenas uma das tuas mãos.
Duas noites e uma cara de pedra

Esse estilhaço de garrafa que fica o corpo depois de duas noites de sono perdido é como acender uma vela para um martírio que se repete diariamente - eu sou um santo! Você tenta, tenta, como um suicída até derrotar as exclamações de seus medos, que se indagam como sábios velhotes que se tossir cospe um órgão fora (isso é um barulho fatal na sua vida); mas não consegue fechar nem um olho. Você começa a imaginar poltergeists enquanto fuma um cigarro no beco da porta, acende a luz várias vezes acreditando na existência mórbida daquelas imagens e o que acontece é apenas o brilho de um lâmpada que te joga no sofá pra nada - é só um tapa. Um copo de café, depois, é apenas uma forma de iludir a memória, pois até então você tá acordado desde anteontem.